Experimentação Pós-digital

Sumário

O projeto Experimentação Pós-digital consiste na realização de ciclos de articulação, produção e intercâmbio de cultura digital experimental em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, durante 12 meses. Foi concebido pelo núcleo Ubalab da Associação Cultural Gaivota. O projeto foi inscrito no mecanismo de incentivo fiscal (lei Rouanet) e aprovado em setembro de 2011 para captação de R$ 348.320,00. Estamos atualmente na fase de captação de recursos.

Objetivos

O objetivo geral do projeto Experimentação Pós-digital é estabelecer uma plataforma colaborativa de cultura digital experimental, em diálogo com diversas áreas de atuação, como a arte eletrônica, a digitalização de produção cultural, o desenvolvimento de ciência e tecnologia, o meio ambiente, o design sustentável e a inclusão digital. Pretende criar um ambiente aberto e participativo, fomentando a pesquisa e o desenvolvimento de projetos, a reflexão crítica, a articulação em rede e o compartilhamento de conhecimento livre.

Entre os objetivos específicos do projeto, encontram-se:

  • A montagem de um Laboratório Experimental de MetaReciclagem (apropriação crítica de tecnologias) em Ubatuba;
  • O desenvolvimento do Observatório do Pós-digital, focado na pesquisa continuada, no diálogo com redes afins e na documentação e compartilhamento online das atividades do projeto, assim como do conhecimento gerado em suas ações;
  • O incentivo à produção crítica e ao intercâmbio de conhecimentos através da realização de três ciclos de atividades (Ciclos Ubalab), cada qual focado em um grupo de temas: Labs Enredados (estruturas, formatos e modelos de produção e desenvolvimento em rede de cultura digital), Eversão (a emergência do ciberespaço e da mídia locativa no mundo real), e Bricotecnologia (artesanato digital, hardware livre, fabricação digital e tecnologia faça-você-mesmo). A curadoria de cada ciclo caberá a grupos ligados ao tema: a plataforma Rede//Labs (Labs Enredados), o núcleo Ubalab (Eversão), e o coletivo Desvio (Bricotecnologia). Cada ciclo receberá um artista ou pesquisador convidado em regime de residência artística/teórica com duração de duas semanas, durante as quais trabalhará em projetos definidos com a curadoria. Cada ciclo se encerra com um debate sobre o grupo de temas e um workshop e/ou apresentação do artista/pesquisador. Os debates e apresentações serão transmitidos pela internet e registrados para posterior publicação com licenças livres.
  • A compilação de uma publicação multimídia colaborativa sobre os temas tratados no projeto, desenvolvida pelo coletivo editorial MutGamb.

Justificativa

As tecnologias de informação tiveram nos últimos anos um grande impacto em toda a sociedade. A digitalização do conhecimento, as redes de comunicação e a explicitação da memória compartilhada da humanidade são hoje fenômenos culturais analisados e reconhecidos. Se este presente já é hiperconectado, para onde vamos no futuro? O projeto Experimentação Pós-digital propõe justamente explorar temas que podem ser definidos, de forma abrangente ainda que temporária, como um campo do "pós-digital". São temas latentes, na fronteira entre cultura, arte, ciência, economia, educação e sociedade. Alguns exemplos são a internet das coisas, o hardware livre, fabricação digital, design aberto, geografia experimental, cidades inteligentes, realidade expandida, mídias locativas, aplicações móveis, ciência de garagem, hackerspaces e muitos outros assuntos relacionados. Nesse sentido, o projeto procura "fazer o amanhã, pensando o depois de amanhã". Adota a experimentação e o agenciamento em rede como métodos de desenvolvimento de novas formas de produção cultural crítica, que abarquem as possibilidades dessas novas tecnologias inseridas no contexto da sociedade brasileira contemporânea.

Ubatuba é uma cidade que reproduz em pequena escala alguns elementos característicos do Brasil: diversidade cultural e dinamismo social (com uma população miscigenada, áreas indígenas e quilombolas, além de imigrantes de muitas regiões do país e do mundo), e por outro lado uma ainda insuficiente infraestrutura cultural, educacional, de comunicações, transporte e de saúde. Exibe alguns trunfos, como ser a cidade recordista em área proporcional de preservação da Mata Atlântica no estado de São Paulo, ter uma abrangente malha de ciclovias e sediar eventos esportivos internacionais.

O núcleo Ubalab é um dos nodos articuladores da rede MetaReciclagem, que desde 2002 desenvolve projetos de apropriação crítica de tecnologias de informação articulados com traços culturais tipicamente brasileiros, como a gambiarra – entendida como inovação informal cotidiana - e o mutirão - como rede social dinâmica orientada a projetos. A rede MetaReciclagem hoje conta com cerca de quinhentos integrantes em todas as regiões do país, recebeu prêmios de arte e tecnologia no Brasil e no exterior, foi citada em mais de uma centena de trabalhos acadêmicos, inclusive como tema de investigação em teses e dissertações de mestrado e doutorado, e influenciou projetos abrangentes de políticas públicas de tecnologia. Dialoga com diversas iniciativas internacionais, como a rede Bricolabs, os festivais Future Everything, Lift, Transmediale e centros de pesquisa ao redor do mundo. Foi listada como "caso de sucesso" pelo Programa Informação Para Todos da Unesco.

A realização do projeto Experimentação Pós-digital em Ubatuba está ligada ao desejo do núcleo Ubalab de buscar novas vocações culturais para a cidade, ao passo em que ajuda na instrumentalização de produtores culturais com ferramentas digitais, estimula a formação crítica do público jovem e atua ainda na valorização e integração à era da informação de manifestações culturais populares. Outro objetivo do núcleo Ubalab é estimular contribuições advindas de visitas espontâneas. Nos últimos três anos, mesmo sem ter infraestrutura dedicada ou qualquer verba para intercâmbio, os integrantes do núcleo Ubalab receberam visitas de nomes importantes da arte eletrônica no mundo, como os artistas e pesquisadores britânicos Bronac Ferran, Rob La Frenais e Orlagh Woods, a produtora cultural austríaca Annette Wolfsberger e o artista finlandês Tapio Makela.

Ficha técnica

Felipe Fonseca (33) é pesquisador independente, ativista e palestrante internacional. Atua em redes de produção colaborativa, conhecimento livre e apropriação crítica de tecnologias. Foi um dos criadores das redes MetaReciclagem e Bricolabs, e é integrante ativo de outras dezenas de redes e coletivos. Participa do coletivo editorial MutGamb e escreve em blogs como Desvio, Lixo Eletrônico e outros. É integrante do conselho editorial da revista A Rede, do conselho consultivo da Associação DesCentro e do Internet of Things Council da Europa. Já participou de debates ou deu palestras em eventos internacionais de alto nível como Transmediale, Future Everything, Lift Conference, Wintercamp, Labtolab, Wizards of OS, Picnic Network, (un)Common Ground, Next Five Minutes, Alternate Law Forum, iSummit e outros. Publicou em 2011 o livro Laboratórios do pós-digital.

Thalita Maiani (31) é produtora cultural. Trabalhou na implantação da estratégia de cultura digital do projeto Pontos de Cultura do Minc, no projeto Kinoforum, no Portal da Juventude do Estado de São Paulo, no programa Acessa SP e em diversos outros projetos. Desenvolve projetos de registro e valorização de cultura indígena e caiçara em Ubatuba.

André Corbett di Monaco (29) é geógrafo e fotógrafo. Participou de expedições de registro em lugares como as ilhas Trindade e Martim Vaz, de pesquisa sobre transporte escolar na Amazônia e viajou pelo Caribe a bordo de um Catamarã.

Maira Begalli (27) é jornalista ambiental. Faz parte da direção da Associação Veredas. Colabora com o coletivo MutGamb. Participou da organização de eventos como a Campus Party, o Fórum da Cultura Digital Brasileira, o projeto Limpa Brasil e outros.

O coletivo Desvio atua na pesquisa de fronteira entre arte, gambiarra e novas tecnologias. Recebeu menção honrosa no Prêmio Sergio Motta (2009). Realizou exposições e oficinas em lugares como Matilha Cultural, SESCs Pompeia, Carmo e Vila Mariana, e Serralheria. Mantém um weblog com textos críticos sobre arte e tecnologia.

A rede MetaReciclagem promove ações de desconstrução e apropriação crítica de tecnologias em todas as regiões do Brasil, desde 2002. Sua lista de discussão conta com cerca de quinhentos integrantes, seu site tem mais de mil usuários cadastrados. Influenciou direta ou indiretamente as metodologias de implementação de cultura digital em projetos como os Pontos de Cultura, GESAC, Casas Brasil, Acessa SP e dezenas de projetos locais de cultura digital. Conta com laboratórios autogeridos em localidades como Santarém (PA), Arraial d'Ajuda (BA), Florianópolis (SC), Rio de Janeiro, São Paulo e outras localidades. Recebeu menção honrosa no prêmio APC Betinho de Comunicação (Uruguai), no Prix Ars Electronica (Áustria). Ganhou o Prêmio de Mídia Livre do Ministério da Cultura em 2009.

O coletivo MutGamb é um subprojeto da rede MetaReciclagem, criado em 2008 como seu braço editorial. Desde então, trabalha com publicações periódicas (MutSaz) e edições especiais, além de séries de vídeo experimental. Desenvolveu uma metodologia para a publicação de livros eletrônicos em formatos múltiplos, com licenças livres. Ganhou o Prêmio de Mídia Livre do Ministério da Cultura em 2010.

A plataforma Rede//Labs foi criada em 2010 para promover a cooperação e o intercâmbio entre laboratórios experimentais de arte, ciência e educação de todo o Brasil. Desenvolveu pesquisa sobre o assunto e organizou encontro com mais de cinquenta participantes vindos de todas as regiões do Brasil e em contextos institucionais diversos - universidade, empresas, coletivos, instituições e eventos.

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